segunda-feira, 13 de julho de 2015
sábado, 11 de julho de 2015
TÃO BONITA ASSIM, NÃO PODE SER INTELIGENTE. O MITO DO FÚTIL AO REDOR DE MARILYN MONROE
Uma mulher culta? Leitora
voraz? Escritora?
Mas não era um símbolo sexual? Só um bichinho bonito?
Com 36 anos de idade
Marilyn estava tão cansada disso que morreu. Os problemas de Norma Jean (seu
verdadeiro nome) sempre foram muito sérios, mas o problema maior talvez seja o
fato de que nunca a tenham levado a sério, como muitos fazem até hoje.
Nem todo mundo que cercava Marilyn era ruim, mas no geral, ela esteve
desde muito nova, atirada a um ninho de cobras, tentando abrir caminho por um
mundo masculino. Sempre com o peso de provar que não era só isso, que não eram
só aquilo, que era uma atriz e não só a moça bonita que fazia charme para as
câmeras. E ouviu tantas barbaridades, até mesmo das pessoas que escolheu para
amar, que não sabia mais como colocar a si mesma nesse mundo cruel, duvidava de
si, insegura, estava perdida e sorria como quem se desculpa.
E quem poderia culpar
alguém na posição dela por perder a fé em si, quando afinal é conhecido de
todos, é muito mais fácil acreditar nas coisas ruins que ouvimos, do que nas
boas.
Mas ainda hoje se
pergunta, como um grande mistério: de que ela morreu? Ela tinha tudo, por que
se mataria? E dizem muita coisa, como fraqueza, fragilidade e principalmente
futilidade... Já que também, é outra coisa conhecida, que quem morre deve uma
explicação pra quem fica não se pode simplesmente morrer, principalmente alguém
como Marilyn.
Passando os olhos
pela história de Marilyn, tem-se a impressão de que dela devia se sentir muito
especial, sempre ouvindo elogios e sendo admirada, mas não era bem assim, pelo
menos não eram assim que ela se sentia.
Ela mesma disse: Ninguém
nunca disse que eu era bonita quando pequena. Toda menina deveria ser chamada
de bonita, mesmo se elas não sejam.
Marilyn nasceu como
Norma Jeane, em 01 de junho de 1926, em Los Angeles. Sua mãe era uma doente
mental. No curto período que passou ao lado da menina, numa casinha com um
piano branco que ela deu a Norma Jeane, ela estava em pânico; acreditava que
indivíduos hostis iam irromper pela casa e levar tudo embora.
Pelo menos dois
abusos sexuais são conhecidos dos biógrafos de Marilyn, um sofrido aos 7 anos e
o outro aos 11. Em ambos, ela foi vítima de integrantes mais velhos das
famílias adotivas com as quais conviveu. Confiar e construir relacionamentos
nunca seria o forte de Marilyn. No fim, ela viveu com onze famílias diferentes.
E depois de tudo, talvez ela tivesse quase a certeza de que seus amados a
machucariam, ou iriam embora.
Não era simplesmente
esquecer tudo isso e ser Marilyn, apenas Marilyn. Ela disse: Marilyn só
existe nas telas, fora delas sou Norma Jeane.
Sou do interior.
Norma Jeane se casou
aos 16 anos com seu primeiro marido, Dougherty, que a traiu logo em seguida. E
após isso, ela datilografa páginas de reflexão sobre o caso, que só poderia ter
vindo de uma mente perspicaz, de uma cabeça pensante, muito madura para a
idade.
Os homens não me
veem, apenas me olham, disse ao psicanalista, já perto do fim de sua
vida.
Seus problemas sempre
foram muito sérios, ainda assim, era frenquentemente acusada por diretores e
colegas de trabalho, como John Huston, que a dirigiu em “The Misfits”, de ser
uma neurótica suicida, uma vadia. Foi chamada de fresca nos sets de filmagem
quando estava muito doente. Tentava fazer o que amava e esbarrava na frieza do
mundo de negócios, nas pessoas tantas em quem não podia confiar na falta de
amor.
O livro “Fragmentos –
Poemas, anotações íntimas e cartas de Marilyn Monroe”, lançado no Brasil pela
Tordesilhas 2011, reúne as anotações e os poemas de Marilyn. Ela costumava
escrever em qualquer pedaço de papel que achasse pela frente, guardanapos
avulsos, cadernetas e agendas, que enchia com suas angústias.
E ela diz:
Socorro, socorro. Socorro.
Sinto que a vida está chegando mais perto quando tudo o que quero É
morrer.
A descrição do livro
começa da seguinte forma: “Pouca gente sabe, mas a atriz norte-americana
Marilyn Monroe, símbolo universal de beleza e sensualidade, era uma leitora
ávida...”
Ela chegou a mostrar
alguns de seus textos apenas para amigos muito íntimos, e chegou a ser
aconselhada a escrever mais, quem sabe um livro. Após sua morte, em 1962, tudo
que escreveu foi deixado ao seu amigo Lee Strasberg. Quando ele morreu, em
1982, a herança parou nas mãos de Anna Strasberg, sua esposa, que buscou os
organizadores para ajudá-la a dar um destino ao material.
Ao pegar o livro na
minha estante alguém disse: Ela escrevia? Achei que era só um bichinho bonito.
O vendedor na
livraria disse: Você acredita mesmo que ela lia? Pra mim ela era uma poser com
todos esses livros na mão. James Joyce? Duvido.
Marilyn buscava uma
verdade, algo de bom no mundo, apesar das decepções, queria ser realista: "É
melhor conhecer a realidade ou as coisas como são que não conhecer e é bom ter
o mínimo possível de ilusões"
Marilyn se frustrou
se anestesiou, se dopou e exagerou. A conclusão da causa de sua morte foi
suicídio.
Oh droga queria estar
morta – absolutamente inexistente desaparecida daqui – de todos os lugares, mas
como eu conseguiria Sempre existem pontes...
Marilyn estava em
evidência, em tempos ainda muito difíceis para as mulheres, anterior à queima
dos sutiãs de 1968, anterior a muita coisa e se sentia extremamente só.
Sozinha. Eu estou
sozinha. Eu estou sempre sozinha não importa o que aconteça.
Mas sem dúvida ela
não foi a única a ser tachada por homens como histérica, neurótica, ou vadia,
apenas por ser dona de uma beleza exuberante, ou burra, pelo mesmo motivo. Tão
bonita assim, não pode ser inteligente. Quem nunca ouviu isso? Ouvimos muito até
hoje, se não somos mais tachadas especificamente como inferiores aos homens,
ainda somos como fúteis compradoras de sapatos, fragilizadas e sentimentais,
propensas a rompantes e crises, menos eficientes. Todas ainda sujeitas ao mito
do fútil.
Precisamos nos
desmitificar como muitos tentaram, lealmente, desmitificar Norma Jeane do mito
do fútil e dar a ela a justiça de poder sofrer, estar doente, sentir medo, ser
humana apesar de ser Marilyn.
Como ela escreveu: Para
a vida É uma determinação e tanto não me sentir sufocada.
E ainda lhe devemos o
crédito, de apesar de tudo isso, ter conseguido o que conseguiu nas telas, como
eles costumavam dizer: quando Marilyn acertava a cena, você não queria olhar
pra ninguém mais.
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