sexta-feira, 21 de março de 2014

POESIA DISFARÇADA

Você pode até tentar. Pode exorcizar. Pode esquecer o apelidinho carinhoso e chamar de falecida. Pode fingir que nem tem tesão naquela moça familiar.
Pode perder o tesão de verdade, até. Pode um monte de coisa.
Não pode é achar que vai sair dela assim, como quem abre a porta da sala e vai para o corredor, rumo ao hall e à velha padaria. Não pode é achar que tem uma saída da história, uma fuga do que aconteceu entre vocês.
Amor não tem escape imediato, tolinho. Não tem porta, abriu, fechou e foi embora. Nenhum deles, dos amores, têm.
Não tem saída de emergência para o amor, não.
Aliás, tem. Até tem, sim. Mas é tipo saída de emergência de avião em pleno voo: está ali, sinalizada com neon, de acordo com todas as normas de segurança. Mas vai sair por ela...
Quando você abre a porta, do avião ou do amor, é abismo imediato. Voo em queda livre sem garantia de paraquedas.
E eu nem falei do pânico para quem fica. Fulaninho abriu a porta, saiu voando. Fulaninha ficou na cabine subitamente despressurizada, com máscaras caindo automaticamente — coloque-as primeiramente em você, apenas depois na criança que está ao seu lado.
Amor não tem saída, não. Não tem fuga, como quem abre a porta da sala e vai para o corredor, rumo ao hall e à velha padaria.
Ele pode até estar doendo. Mas e o medo de sair de dentro dele? O que vai vir dali para diante? Como não carregar um pouquinho dele com a gente, dentro da mochila que a gente já carrega a vida inteira?
Tenho muito, muito medo de avião.

Tenho ainda mais medo de amores que machucam, mas não me deixam outra saída a não ser vivê-los um tanto.

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