segunda-feira, 9 de março de 2015

ESTILO DOS ANOS 70 ESTA NA MODA ENTENDA POR QUE?


Exótica, fluida, boêmia, "gypset" – essas são as palavras que devem dominar o mundo da moda neste ano. O look hippie-chic dos anos 70 já está à nossa volta e roubou a cena na apresentação das coleções Primavera/Verão 2015 nos principais desfiles do mundo.


Das túnicas florais da grife Céline e calças boca-de-sino de veludo cotelê da Louis Vuitton às maxi-saias e turbantes da Saint Laurent, os anos 70 estão indubitavelmente de volta. A estilista britânica Bella Freud até batizou um novo perfume com o nome de 1970, cujos tons predominantes são o almíscar e patchuli.

O look "gypset" dos anos 70 – combinação dos termos "gypsy" ("cigano") e "jet set" (que remete à sofisticação) – é global, glamouroso, luxuoso, hedonista e extravagante. Ele evoca imagens como almofadas no chão e incenso, artistas plásticos, estrelas do rock e suas fãs.
Enquanto isso, em Londres, uma nova exposição no Museu de Moda e Têxtil celebra justamente a moda boêmia daquela década e a obra da estilista Thea Porter. Falecida em 2000, suas roupas hoje só podem ser usadas por um grupo restrito de colecionadoras – entre as mais famosas estão Julia Roberts e Kate Moss.
Kate Moss:

Mas o que fez aquela década ser tão influente na moda?
"No fim dos anos 60, as pessoas queriam mudança", explica Dennis Nothdruft, curador-chefe do museu londrino. "A moda se tornou mais leve, mais romântica, menos agressiva, mais fluida. O movimento absorveu influências de outras culturas, principalmente as do Oriente Médio e norte da África, e de uma certa nostalgia pelos anos 30 e pela era vitoriana. E a moda também passou a sintonizar mais o que ocorria no mundo da música".
Porter, que a curadora diz ser da vanguarda daquele momento, passou a maior parte de sua infância entre Jerusalém e Damasco e foi muito influenciada pela estética do Oriente Médio. Ao se mudar para Londres para carreira como pintora, ela acabou se tornando designer de interiores e logo passou criar roupas.
Os Beatles, Jimi Hendrix e os integrantes do Pink Floyd eram frequentadores da loja que ela abriu e sempre vestiam suas criações – camisas de chiffon, casacos brocados e calças boca-de-sino de veludo.
Elizabeth Taylor era fã dos volumosos caftans desenhados por Porter. E peças como saias e vestidos de inspiração cigana logo se tornaram populares. Criados meticulosamente em chiffons finos e com tecidos tramados e bordados à mão, eram obras-primas do design.
Elizabeth Taylor:


Pouco depois, a estilista expandia os negócios para Paris e Los Angeles. Na capital do cinema, ela conquistou a clientela "hippie-rica" que vivia a onda da contracultura. Joan Collins, Barbra Streisand e Faye Dunaway compraram várias de suas peças. Streisand até encomendou uma série de looks, cada um para combinar com um ambiente de sua mansão.
"Thea Porter foi o expoente máximo do estilo boêmio dos anos 70", define Nothdruft. "Ela tinha um jeito diferente de ver a vida".
Mas por que o hippie-chic volta à tona justamente agora? Para o especialista britânico, trata-se do "pêndulo da moda". "Nos últimos anos fizemos uma abordagem da moda muito rígida, moderna, utilitária, com muita estamparia digital. E o look boêmio dos anos 70 é exatamente o oposto disso, representa uma maneira mais relaxada de se vestir", explica.
E será que o momento que vivemos também não permitiu essa volta? Sim. O estilo dos anos 70 parece mais verdadeiro, mais honesto, mais humano. Na atual era digital, as pessoas estão valorizando mais essas qualidades – e estão valorizando experiências e viagens. As grandes redes de confecções chegaram a um ponto de saturação – é por isso que o vintage está cada vez mais popular.
O início dos anos 70 foi uma época de idealismo, radicalismo, anticonsumismo, contestação social e mudanças, com ênfase no debate sobre a igualdade de raças e de gêneros. Mas o boehmenismo já estava entre nós muito antes disso: surgiu como uma filosofia que influenciou as artes no século 19, principalmente como uma rebelião não-conformista contra a ascensão da rigidez burguesa. Foi apenas no fim dos anos 60 e início dos 70 que isso se fundiu com a contracultura e com o movimento hippie.
É claro que a noção de uma moda hippie-chic é uma contradição em termos, um paradoxo tão absurdo quanto o vivido há 40 anos, segundo a escritora Laura McLaws Helms, que também atuou como curadora da exposição sobre Thea Porter e escreveu um livro sobre a estilista. O look hippie começou como um modo de afirmação política – uma espécie de antimoda – mas logo se tornou a própria moda.
Mesmo assim, ao que parece, os estilistas de hoje desejam se conectar ao clima autêntico e livre dos anos 70. A grife italiana Valentino convidou a veterana Celia Birtwell, um dos grandes nomes da moda daquela década, para colaborar com sua coleção pré-outono 2015.
A coleção foi composta por vestidos florais etéreos, com acabamentos em renda e enfeitados com os bordados românticos de Birtwell. Os modelos foram aplaudidíssimos, e um deles foi até usado pela poderosíssima Anna Wintour, diretora da revista Vogue.
Junto com Ossie Clark, seu marido e parceiro de criação nos anos 70, Birtwell manteve uma das marcas mais badaladas do autêntico movimento hippie-chic, atraindo uma clientela estrelada. "Não pensávamos em dinheiro. Tínhamos mais liberdade", conclui.

"Não pensávamos em dinheiro. Tínhamos mais liberdade" Celia Birtwell.

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