Essa e a era dos depressivos? Rápido. Muito rápido. Na maior velocidade
possível. Menos que isso e entramos em colapso. A Era da Informação é uma
máscara bem fina. Tornamo-nos mesmo a Geração Rivotril na Era da Depressão. Por
quê? Talvez não haja tempo para explicar. Sucintamente: não temos tempo nem
para ser felizes e nem para sofrer em paz.
A tecnologia nos cosome, um minuto que preciso checar o celular. Desce mais
uma pílula, por favor. Tarja preta, claro, não tenho tempo para florais, está
louco? Ah, manda um uísque também. Gelo. Se puder ser um Black,
agradeço.
Só mais um minuto: alguém me escreveu algo importante.
Algo dói aqui.
Não há que ser nada. Se paro e fico pensando posso estar perdendo tantas
coisas. Aquele vídeo é fundamental para mim. Imagina eu ser o único que não
soube disso amanhã. Mas e essas minhas mazelas pessoais me atrapalhando?
Tanta dor. Tanta confusão.
Sim, vidas pessoais sempre foram, no mínimo, caóticas. Desde os
primórdios. Ou alguém se esqueceu do nosso histórico de selvagens – mudança
sutil aqui, não? Mas voltando ao tópico que o tempo é bem curto, a diferença
fundamental era o tempo para lidar com as calamidades do dia-a-dia. Para
digeri-las. Para até tentar entendê-las.
Hoje estamos nesse turbilhão de dados que nos envolvem tanto quanto
nossas peles. Arbitramos prioridades. O peso dessas escolhas nos sufoca. A
depressão é cada vez mais natural. E haja química para suportar tanta coação
mundana. A tela mágica desfila seu celeiro de felicidade impossível, vidas
incríveis e corpos perfeitos. Enquanto nos vemos mergulhados em areia movediça.
Sequer notamos, na verdade. Nossos sentidos estão em frangalhos, mas
continuamente antenados nas frivolidades das redes. Sociais? Ou antissociais?
Tanto faz uma vez que nos encapsulam como presas à espera da aranha algoz.
Vodka no copo que eu quero esquecer a semana. Deveríamos nos orgulhar de
nossos feitos, mas chegou mais uma Segunda-Feira. Maldita seja. O amor pode
esperar. Preciso dar uma checada nos meus contatos. Vai que rola alguma coisa.
Sempre na tela. Sempre muito rápido. E esses e-mails dos infernos. Brotam
incessantemente. Mas e aquele assunto mal resolvido com aquela pessoa? Na hora eu
vejo. Penso rápido. Análise superficial – como todo o resto. E tome essa
resposta frívola e mal elaborada. É tudo que tenho a oferecer.
Não tem jeito, uma hora a maldita cabeça há que pousar em um travesseiro
qualquer. E o cérebro imparável vai cobrar respostas. Mas se sequer temos
perguntas bem resolvidas como elaborar saídas. Vemo-nos perdidos e não há nesse
mundo um GPS bom o suficiente para nos guiar na estrada rumo à morte.
Sim, a morte está logo ali à espreita. Inexorável. O beco parece sem saída. E
padecemos de pé. Padecemos quando despertamos. Estamos com tudo. Temos tudo.
Acessamos tudo. No entanto, estamos completamente vazios no fim.
Imaculados seremos no fim. Pois lá no final do arco-íris não há nada.
Nenhum pote de ouro. Mas nenhuma cobrança. Nenhuma informação perdida. Nenhuma
dor.
Esperamos morrer para entender o quanto nos dedicamos à forma, ao
estilo, ao jeito e não às pessoas. Não às relações. Não à nossa história.
Escrevemos tanto e não deixamos nada escrito de fato. Lemos tanto e não agregamos
nada. Não absorvemos nada útil. Mas o que é utilidade se são as futilidades que
hoje nos interessam mais? É isso aí. É o que temos para esperar até a hora do
próximo comprimido.
Um copo d’água, por favor.
Que nossos sentidos se agucem para nós mesmos. Que nossos desejos se
direcionem às nossas aflições e angústias. Que no fim, no apagar das luzes,
alguém possa contar algo sobre nós. Ou que mesmo que ninguém faça isso, existam
marcas eternas em outras pessoas. Isso não significa marcas boas, felizes,
venturosas. Cicatrizes na alma, isso, sim!
Afinal, sentir é tudo que somos. Ao fechar os olhos e nos isolar do
resto, é só o que há. Uma alma em curto, buscando um sentido nos lugares
errados. Nas telas acesas por aí. Que sintamos mais e que sintamos melhor.
Sofrer, sim. Sofrer, sempre. Aprender. Errar. Aprender. Errar. Isso mesmo.
Nenhum acerto esperado. Mas muita garra ao tentar.
O dia seguinte é inevitável se continuamos vivos. Bom se estivéssemos em
um maldito feudo podendo nos dedicar aos mexericos da vila e mais ainda às
dores de nossas almas. Àquela pessoa que insiste em não nos querer. Às vezes em
mesmo ignorar nossa existência. Uma vida para pensar sobre esse todo tão
minúsculo, mas tão maior que esse todo gigantesco que acreditamos ter hoje.
Voltemos ao século dezesseis. Que encontremos um alquimista que nos
forneça o Rivotril da época. Mesmo que seja um copo de um alcoólico qualquer
vindo da abadia mais próxima. Se só os frades puderem ajudar, que assim seja.
Contudo aqui estamos frente aos monitores. Aqui estamos em frente à
tanta coisa. Tanta coisa que esconde nossos objetos realmente importantes.
Cuidemos de uma a uma nos segundos que lhes cabem. Um salve ao Rivotril nosso
de cada dia. Ao copo do drinque mais forte. Às pessoas insensíveis como nós
mesmos. Misturemo-nos e mergulhemos juntos nesse caldo insosso produzido por
essa epopeia dolorosa e sem sentido.
Adeus, é preciso assistir aquele vídeo para ter assunto amanhã no café.
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