quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

A nova arena dos babacas de sempre

O mundo optou por abandonar aquelas reuniões de amigos que se repetiam nas noites de sexta na casa de algum deles e amplificou o bate-papo para uma esfera maior. Mudou e pronto – aos insatisfeitos resta se conformar e, o quanto antes, se adaptar – ou se isolar, o que seria também louvável. No entanto, uma consequência coletiva clara é o fim do sigilo que cercava aqueles encontros, praticamente rituais pertencentes a algum tipo de seita. Tudo podia ser dito entre os amigos. Entre os cinco, dez que cada um mantinha. De verdades absolutas imutáveis (sem nenhum sentido) a aberrações ofensivas e não repetíveis fora da proteção daquela redoma.
O politicamente incorreto sempre transitou serelepe pela boca do brasileiro sem muitas restrições. Por vezes, com muito exagero, outras tantas com bastante desrespeito, mas fundamentalmente com muita malícia e bom humor.
Hoje, se um carioca ou paulistano “dá uma sacaneada” nos habitantes de Cuiabá, por exemplo, dizendo que aquilo fica no fim do mundo, os patrulheiros da moral e dos bons costumes estarão lá para criticar. É a Gestapo histriônica e hipócrita das redes sociais que não existiria desprotegida dos monitores a serviço das autoestimas derrocadas dessa gente sem perspectiva e sem bom humor. Pior é que essa coisa se retroalimenta alimentada pelo contágio certeiro da babaquice generalizada. Vale lembrar que gente pequena de alma e de caráter recebe, absorve e se transforma: não consegue julgar nenhuma informação nova que recebe.
Antigamente também existia esse tipo de babaca. Sua presença era mais rara, contudo. Muito em função, até, de sua incapacidade de habitar os ciclos irrompíveis das amizades sedimentadas pelo tempo (e não digitalizadas) entre os pensantes. Não havia espaço para sua entrada e para essas churumelas politicamente corretas. Hoje, não são necessariamente os mesmo babacas de sempre, mas o estilo e a ideia que os cerca são exatamente os mesmos. O problema é a amplitude e amplificação de suas atitudes pequenas, selvagens.
Os politicamente corretos da geração digital parecem não dormir. Nem cochilam, é possível crer. Estão “sempre alerta” para corrigir, retrucar, acusar, emendar, delatar, culpar, incriminar; encher o caso, enfim. Tratar por novos babacas parece bastante razoável no caso deles. Nunca foram ouvidos por ninguém e agora tem holofotes digitais – que alegria. Agora têm uma audiência qualquer que também se abstém de racionar sobre seus escritos rasos, sem perspectiva, sem conteúdo ou forma, sem caráter. Agora se deleitam com a repercussão de suas asneiras. São tão superficiais que, até mesmo, quando o destino lhes sorri e algo que presta se propaga entre suas querelas faz sentido, seu histórico de tolices e disparates cuspidos indiscriminadamente, elimina seu efeito dado que a obra é do acaso e não da ação de seus neurônios inertes.
Nesse universo em que relações rasas se avolumam no contador ensandecido de amigos, a porteira está arregaçada e livre para a entrada desses parasitas da informação. Isso trouxe um sentimento geral de que a qualquer momento vai aparecer alguém enchendo o seu saco e dando uma opinião sobre qualquer assunto que se resolva comentar. Gostar ou não gostar de algo deixou de ser direito adquirido. Ai daqueles que se atrevem a se opor a opiniões óbvias e fúteis e se contrapor a essa horda vigilante.
Os argumentos são e serão os mais diversos, sempre disfarçados sob essa máscara sofista de uma suposta padronização da moral e dos bons costumes, que simplesmente é impossível pela própria definição de sociedade. Uns dissimulados, é claro. Passam a impressão de que usam a pouca responsabilidade das teclas que os interligam ao mundo exterior para compensar o arremedo de vida que conquistaram. Para tentar lidar com seu amor-próprio minúsculo: baixo como sua capacidade de pensar fora da redoma de arquétipos que balizam sua pequenez.
Não resta alternativa. Enfrentá-los é um dever de qualquer um que tenha a oportunidade. Rebaixá-los ainda mais é o que resta, dado que não há esperança de recuperação. São estupradores do respeito ao outro. São usurpadores da liberdade de pensamento. Não é preciso queimá-los, pois uma inquisição desse tipo os agraciaria com uma imerecida relevância. Ignorá-los e, ainda assim, demonstrar sua insignificância os matará de inanição. O prazer de ver sua depauperação será perene.
Uma chacoalhada, às vezes, não fará mal a essa subespécie. Eles merecem qualquer tipo de tratamento malfazejo. O mais importante, contudo, é que enquanto os que raciocinam e não se deixam subjugar por essa doutrina do medo mantiverem seu pé firme fincado junto a suas opiniões – palatáveis, controversas ou socialmente inaceitáveis –, assistir-se-á todos os dias a esse amontado de vermes repugnantes exaurir-se até um completo e merecido perecimento. Que o que dizem se esmaeça com o passar das estações tal qual rabiscos de tinta de qualidade inferior num papel pouco nobre esquecido no mais velho e abandonado dos baús entregue à poeira do tempo.

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