segunda-feira, 1 de junho de 2015

NÃO VIM À ACADEMIA FAZER AMIGOS

Já se vão 30 anos desde que mamãe me viu pela primeira vez e deu aquele sorrisão animado dizendo “tão feia, coitada, mas como já amo”, e posso garantir que o tempo passa rápido, voando, quase tão veloz quanto o movimento que diariamente fazem hoje meus peitos desde o sutiã de que são privados até o geladíssimo chão, onde encostam quase sem estardalhaço, e como eu dizia, já foram 30 anos mas não parece ter sido nem 10.
De modo que, lutando contra a gravidade, a idade, a flacidez e a sordidez do tempo, e tendo começado a batalha bem depois do que deveria, já há um ano corro atrás do prejuízo de cima duma esteira elétrica, e debaixo duma outra dezena de ferros, manivelas, barras e instrumentos diversos que deveriam me deixar gostosa(mas teve uma pausa de uns 6 meses por motivos de doença), mas que, até o presente momento, só têm me feito parecer estúpida e me confirmado desengonçada além do limite tolerável pelo mundo fitness.
Estou longe da Gabriela Pugliese e pertissimo da Betty Faria. De chapada, só minha memória.

Gabriela Pugliese
E, posto que vivo bem com isso, a ida ao templo da saúde, do bem-estar e da beleza acontece sem grandes cobranças, suave, de boa. Empurro minhas coisas, puxo minhas paradas, ajoelho, levanto, e aquilo que chamam de treino corre ausente de trancos ou graves acidentes. No máximo, no máximo, um pesinho de 4 kg caindo no pé, mas nada que no ambulatório não se resolva.
Na academia de ginástica, sou feliz como sou: flácida e impopular.
Driblando a sofrência que envolve fazer muita força e ao mesmo tempo respirar, sigo rumo à medalha olímpica concedida aos que completam o plano anual sem desistir. Confesso que já quis bastante, mas a pressão dos $$$ pingando na conta do banco sempre me faz voltar atrás e vestir a legging. Bate esse whey e toma, garota, coragem.
Sou do tipo que agora malha sem fone, o que denunciaria, das duas, uma, ou minha total abertura a novos contatos, ou minha falta de verba para investir em fones que funcionem por mais de uma semana sem dar defeito. Uma dica: comprei todas as minhas roupas de ginástica no outlet. Sou pobre, não vim aqui fazer amigos.
No entanto o prestativo homem que sabe meu nome (personal Trainer), mas de quem tenho algumas informações além de 1) é homem 2) é prestativo, puxa conversa e, atencioso, quer saber de mim, ahh esqueci do detalhe 3) é meu primo ( rsrs ). Veja, nem eu sei de mim. E, ainda que soubesse, não conseguiria te contar, porque puxar estes 19 quilos e respirar e falar ao mesmo tempo é demais pra mim. Não me levem a mal. É descoordenação, não falta de apreço.
No vestiário lotado, disputo espaço na pia com duas garotas que têm cada uma metade da minha idade e o triplo do meu sex appeal. Tudo bem, sei conviver com isso. Como eu disse, já são 30 anos de conformismo. Só dói um pouco em momentos como quando o carro delas ficam bem na frente visível para qualquer um, que no fundo  por ser sujo e humilde o meu. Mas já resolvi esse problema, estou indo a pé, muito mais saudável.

Nenhum comentário:

Postar um comentário