sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Uma brisa teima em passar fresca pelo calor da noite estrelada e entra ainda esperta pela janela que mantenho aberta para o mundo lá fora.
Levanto-me para um cigarro, pouso os cotovelos no parapeito e olho.
Há gente nas ruas, alegria no ar, promessas de Verão e amores fugazes e fugidíos.
A música rasga o silêncio e dá vida a mais uma noite lá fora.
O mundo não pára mas não muda nunca...
Levanto o queixo como que a querer mudar de cenário e vejo o escuro do mar nocturno.
Ao longe as luzes dos barcos recordam-me os que do fundo do mar retiram o pão tão precioso como o metal que de um filão sai.
Que histórias lhes contarão as ondas. Que destinos verão marcados na espuma e que reflexos lhes encherão de luz a superfície das águas.
Só o peso do ar que os empurra para baixo os mantêm secos e apenas a eterna luta dos elementos lhes traça o rumo.
A água empurra-os na direcção contrária e remete-os ao seu elemento original.
Amanhã voltarão à praia onde pertencem tal como os meus olhos voam em direcção a mais alto.
A noite pede para ser vista e bebida com calma. Em leves tragos a vou saboreando e o meu cigarro ainda vai a meio quando vejo nascente a Lua.
A bela Lua subindo ao seu trono de luz. Tingindo de prata o negro do mar e enchendo de sombras os montes e vales.
Os pássaros voam ainda como se quisessem fazer da noite dia e do ano um Agosto eterno. Não sossegam e rasgam o ar com asas de algodão.
O cigarro acabou. Despeço-me do mundo real e volto à janela que me ilumina as noites.
Sento-me frente ao PC e sinto de novo a brisa teimosa que me trás uma pena que pousa quase na minha mão como que a lembrar-me que há asas que nos fazem pesar menos que o vento e brilhar mais que a Lua.
Fecho os olhos, aperto suavemente a pena e sinto que vou guardar em mim todos os devaneios que passou e sentir na face todo o vento que conheceu.
E num breve acenar de asa peso menos que o vento por um momento e sinto que voa quem quer muito e não apenas quem tem asas. 

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